sábado, 15 de agosto de 2009

são paulo, a cidade


Passei parte de minha juventude escorregando pelas ruas do centro, digo escorregando literalmente. No apinhado de gente, eu contra o relógio, desviar do transeunte, no sentido contrário, foi uma arte adquirida, na Direita, na São Bento, na XV, o banco fecha as quatros...Lembro de um deficiente visual, impertigado, terno, gravata , indefectível bengala, arremedo de olhos, saltando-lhes pela órbita, assegurou-me alguém, - advogado! No mar de gente fluindo, o toque inevitável, ato reflexo, devolvia rudemente o esbarrão com um sonoro - "Ei! Você é cego? Havia muitos... Esbarrões, cegos, mendigos, malandros e afins e uma pulsante cidade de um bonde maravilhoso, o "Avenidas". Do centro percorria a Paulista, uma outra, orgulhosa, e diferente Paulista, gosto da de hoje, um tanto modernosa, incomparável o charme da anterior, com seu orgulhoso bonde, chic, esvidraçadas janelas, do assento ao teto e bancos reversíveis, pasmém, candelabros. Descendo a Angélica até a Marechal. Um de meus pecadilhos era simplesmente passear nesse caleidoscópio. Vezes, junto a meu irmão mais velho, desciamos na Bueno Aires, a pé, até o Pacaembú para assistir "o mais querido" às quartas a tarde. Nunca soube se esse, tinha um apelido, no entanto o do proletariado, sim! "Camarão"! Também nunca soube porque. Este, fechado, os abertos já em desuso...Ó! O trânsito nessa época já era uma merda!!!!!!!!!

sábado, 1 de agosto de 2009

"Nada de pedir ao coração que saiba manter seu lugar..."Montesquieu


Bem que me lembro, bem que não me recordo, quando exatamente, fremente, meu coração falou:- "Olha, cara! Você é das Artes" "O que?" "Que é isso?" Bem, até hoje não sei... E o que sabemos com certeza, pouca coisa, não é? O fato mesmo, é que o leme aprumou, o vento a vela enfunou. Esse seu rumo! -"Vai lá, cara!" Tinha eu, meus quatorzequinze, comecei juntando moedinhas, troquinhos, passes de bonde...Queria pintar mesmo antes de aprender a desenhar, e com tanto empenho e nada das pequenas distrações da gula, comprei minha primeira maletinha de pintura, toda completa, cavalete,tela e tudo. Um tesouro! E caro!!!- "Cara!" Agora você é um pintor..."Quebrei a cara". Lógico, coração manda fazer e não lhe dá manual. Travei! Deus! Será que agora serei apenas um funcionáriozinho de banco, escritório, ai! A chama ardia, e nas vagas horas tornei-me um rabiscador, sonhando com as vagas espantando a calmaria. Chegou nos meus vintes. Na época a moda era a publicidade, vivia copiando rótulos e letras. Seria, então, publicitário, "Chic!" Escolas? Ora as escolas...Eu ledor compulsivo não gostava delas, porém lia de tudo, sobre tudo, e, em um anúncio de jornal, despontou... "terra á vista"! Precisa-se de Desenhista, apenas isso. Sim, mas de que tipo? São tantos. Juntei meus toscos "rótulos" e com o rótulo de Desenhista me apresentei, com o coração na boléia, ainda bem! Bem, não é "disto" que precisamos, disse a Moça. -Do que é, perguntei?- Aqui é uma estamparia de tecido, respondeu. "Você conhece? "Conheço!". Coração respondeu... Eu? Não tinha a menor idéia, tampouco ouvido falar. "Faz um teste? - Tremi todo.- "Claro!" Presuroso, respondeu "Êle". E finalmente, as Artes. Ah! O fato é que nos vinte e cinco anos seguintes, ainda não era um Pintooor, porém, feliz, mesmo nas segundas-feiras, pintava umas florinhas que pagavam minhas contas no pequeno porto onde vivia...